quarta-feira, 10 de junho de 2009

AMÉRICA PLATINA

1- INTRODUÇÃO
O Pantanal de Mato Grosso do Sul representa uma das principais regiões turísticas do estado. Uma região belíssima, extremamente rica e complexa, que apresenta uma fauna e uma flora exuberante, orquestrada por um sistema de inundações de origem fluvial e pluvial, que avança sobre os vastos campos de vegetação limpa, cobrindo-os parcialmente na estação das chuvas. A relação que o pantanal exerce diante da realidade do homem da região é por demasia fundamental para o entendimento do ciclo de vida do homem e das atividades que permeiam a colonização e o povoamento desta vasta região que possui singularidades que entremeiam a relação do homem e do ambiente, este determinante para o ciclo de vida no ambiente pantaneiro.
Assim como o ciclo de desenvolvimento e o processo de colonização do Centro-Oeste brasileiro o Pantanal Sul tem sua origem através da pecuária. Para criar gado no Pantanal, o homem desenvolveu um sistema tradicional de produção, com técnicas próprias de manejo adaptadas às condições ecológicas locais. A base desse sistema é a prática extensiva, com os animais criados soltos nos vastos campos de pastagens naturais, com pouca interferência humana. Em função das condições naturais impostas pelo ambiente, a maior parte do Pantanal tem aptidão para a fase de cria, e desta forma, os produtores rurais sempre se concentraram na produção e venda de bezerros. Este tradicional modelo de produção apresenta um baixo nível tecnológico e uma baixa produtividade, sendo pouco competitivo. A grande extensão das unidades de produção, apesar da baixa produtividade da terra, garante a manutenção de renda aos proprietários e às famílias dos empregados.
Em conseqüência do desenvolvimento da pecuária como principal atividade econômica da região, o espaço regional foi organizado em grandes propriedades rurais, poucos núcleos urbanos e reduzida população. As fazendas são isoladas umas das outras e mantém um relativo distanciamento dos centros urbanos. A concentração da população nas cidades pantaneiras e em torno das sedes das fazendas, contrasta com grandes áreas vazias. As distâncias enormes, agravada pela dificuldade de acesso ao interior da região, sobretudo no período das cheias, são os fatores que dificultam a integração e o desenvolvimento, característica que reflete um caráter mais estático do que dinâmico à organização do espaço.
Mesmo a dinâmicas das águas no pantanal sul não foram suficientes para deter ou refrear o avanço do capitalismo nesta peculiar região brasileira que segue em seu cotidiano uma movimentação e velocidade única. Percebe-se a intensificação do processo de produção da pecuária bovina de corte, principal atividade econômica da região, com a introdução de novas técnicas e de novos modelos de administração e de gerência, que possibilitam o aumento da produção e da produtividade local e a diversificação da produção. Concomitantemente novas atividades não rurais são inseridas neste meio, diversificando as atividades desenvolvidas na região.
O turismo passa a exercer neste novo cenário um papel fundamental e único apresentando uma nova dinâmica ao espaço pantaneiro. As voltas que o turismo desenvolveu desde o inicio da atividade no Pantanal é de suma importância para o entendimento desta nova lógica, que exerce uma nova função no espaço pantaneiro atual. Tem-se a partir deste momento a inserção de modalidades turísticas que fazem uso deste espaço rural de um modo direto e que busca sempre valorar e valorizar o mesmo.
Assim diante deste exposto o objetivo deste trabalho esta relacionado em analisar o desenvolvimento da atividade turística no Pantanal de Mato Grosso do Sul e as mudanças na organização do espaço agrário, para tanto se fez uso de pesquisa bibliográfica, coleta de dados secundários e de trabalho de campo.

2- PANTANAL SUL
O Pantanal é uma região muito extensa, com aproximadamente 150 mil km2 no Brasil, ocupando os estados de Mato Grosso do Sul (89 318 km2) e Mato Grosso (60 682 km2). É, também, uma região de difícil acesso, em função da presença de terrenos arenosos, campos inundáveis e ambientes aquáticos, como lagoas, baías, vazantes e corixos.
Estas características do Pantanal faz com que surjam também identidades únicas de seus habitantes que por uma questão de adaptação e dia-a-dia, tornam-se características do homem desta região brasileira.
Raffestin (1993) afirma que o território se forma a partir do espaço geográfico, como resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer escala. Pressupõe um espaço onde se projetou um trabalho e no qual revela relações marcadas pelo poder. Para Haesbaert (2004), o conceito de território apresenta uma dimensão material e outra simbólica. Nesta perspectiva, pode-se inferir que os territórios são construídos a partir de relações sociais de poder, seja no sentido de poder de um grupo sobre outro (Souza, 1995), ou no sentido de poder simbólico, ou seja, de apropriação por identidade (Haesbaert, 1999).
Conseguinte a identidade do homem pantaneiro esta inteiramente ligada a seu habitat e a apropriação deste território faz dele muito mais rico, pois agrega valores e características que fundamentam a utilização do espaço e do território, dando então até um sentido de lugar ao ambiente em que ele esta inserido. Esta relação sofre com o decorrer do tempo uma vez que com o rompimento de determinadas barreiras (espaço, distancias e relações de isolamentos das propriedades) o homem passa a ter novas oportunidades, e inicia então um novo processo dentro do território pantaneiro que é o de apropriação de novas identidades, o filho do fazendeiro deixa então de cuidar do gado e passa a ser educado nas cidades próximas a propriedade ou até nas capitais, assim os costumes, que dantes eram firmados dentro do cotidiano do homem pantaneiro tornam-se exclusivos dos que permanecem nesta região. Este processo ocorre também com os peões que lidam diretamente com o gado, os filhos passam a almejar novas atividades, deixando de lado ou minimizando este processo de propriedade da cultura pantaneira.
Contudo uma nova realidade é inserida dentro do contexto pantaneiro a partir da década de 1990 quando a pecuária entra em crise e afeta diretamente o processo produtivo destes proprietários de terras. Diante desta lógica observa-se que novas atividades surgem como meio de sanar as perdas com a pecuária, dá-se então um valor maior as qualidades do ambiente pantaneiro e o mesmo passa a ser utilizado não somente para a produção de gado, mas também para novas atividades não rurais como o turismo.
Decorrente desta nova realidade a estrutura econômica inicial do Pantanal se vê em processo de alteração, surgindo então neste meio características que voltam-se direto para a atividade turística por si só estabelecida.
Em um primeiro a atividade turistica que se destacou dentro do território pantaneiro foi a pesca esportiva, fenômeno este que atraiu para a região turistas oriundos de todas as partes do Brasil, tudo isso devido a alta piscicosidade dos rios do pantanal. Contudo esta atividade surge de modo desenfreado e trás consigo uma descaracterização da realidade pantaneira, implantando em determinados locais do pantanal uma apreciação do método fordista de satisfação e de formatação dos empreendimentos.
Petrocchi (1998) afirma que “a partir da década de 80, a questão ambiental vem crescendo e assumindo caráter ideológico, influenciando a política, a cultura e a ciência e contribuindo para a formação de novos paradigmas”. Assim acompanhando esta nova tendência social, paralelamente os proprietários pantaneiros passam a utilizar suas fazendas também como locais de “lazer ecológico” utilizando as belezas do pantanal como um meio para o ecoturismo.
De acordo com a EMBRATUR, o ecoturismo “é um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural, cultural, incentiva a sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas”. Diante desta definição o espaço rural pantaneiro assume uma ocupação tão condizente quanto a sua realidade, pois além das atividades envoltas com a pecuária a também uma nova preocupação quanto a preservação deste ambiente e através desta preservação uma valorização do território pantaneiro.
Muito aquém de uma realidade ecológica o pantanal torna-se então um refugio para admiradores e idealistas de uma realidade preservacionista e conservacionista. Atraindo assim uma nova demanda muito diferenciada da que ocorre com o turismo de pesca, uma demanda preocupada com questões ambientais e sociais e que alem disso possuem características que tendem a conservar e preservar muito mais o ambiente visitado. Observa-se quando há uma citação desta nova demanda, a sua origem que em sua grande maioria é estrangeira e oriunda de paises mais desenvolvidos onde a preocupação com os fatores ambientais é muito mais acentuada.
Com a entrada desta nova realidade no ambiente pantaneiro observa-se também uma nova dinâmica com a mão de obra, pois antes da entrada do turismo ela é inteiramente agrária e com pouca especialização, e com a entrada do turista neste ambiente ocorre uma preocupação maior com a qualidade do serviço prestado. Tem-se então um avanço no ambiente rural de uma mão de obra não agrária e voltada diretamente para a atividade turística, assim como também ocorre a presença em algumas propriedades do acumulo de funções, onde o peão da fazenda faz também o trabalho de guia de turismo. No entanto a dinâmica de vida do homem do capo é alterada, assim como seus costumes e hábitos também sofrem alteração com o turista, criando assim uma nova cara nas propriedades.
Observa-se então uma urbanização do espaço pantaneiro, pois em localidades onde nem havia luz inicialmente passam a se adaptar para receber o turista e é então que a utilização de coisas que até então eram exclusivas da cidade. Contudo este fator vem a somar com a atividade turística uma vez que a mesma beneficia a estada do turista dirigindo ao mesmo uma nova lógica de comodidade e satisfação. Pois ele realiza suas vontades e ao mesmo tempo não se depara de modo muito direto com os percalços de uma vida em ambiente rural.
Todas as atividades desenvolvidas no pantanal sofrem uma agregação de valores que estão ligados diretamente aos aspectos culturais e sociais deste meio, agindo deste modo observa-se que as questões referentes ao turismo em ambiente rural esta intimamente ligado a lógica pantaneira, assim como a utilização de elementos da cultura e do cotidiano pantaneiro determinam ou dão vazão para uma discussão quanto ao turismo rural executado neste ambiente, se há realmente uma interação do homem com a cultura, com a lida e com o dia a dia do homem pantaneiro.


Luis Thiago (Foca)
Acadêmico de Turismo UFMS-CPAQ

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